atrás da porta o vazio. De longe ouvia o 1o movimento – allegro ma cantabile – de seu disco preferido. Num ímpeto salta da cama e, ao olhar para o chão, dunas. Sabe que são dunas porém, o que faziam ali não importa.
Sente-se só. Sai para caminhar. Percorre um trecho sem pensar, apenas caminha. Ainda ouve aquela música, suave, branda, de nada quer saber e o que sabe é que não compreende aquilo tudo. Avista um galpão e vai em sua direção. Cada passo dura uma eternidade e quanto mais se aproxima, tem a impressão de que mais distante está. Cai.
Tudo escuro quando desperta. Quer levantar mas não consegue. Ouve uma sirene e apaga novamente. Adormecido, sonha com o dia em que vai acabar. O que é seu, e o que não é; o que viu, e o que deixou de ver; o que passou, e o que se fez passar; o que gritou, e o que calou; o que viveu, e o que teve que morrer para viver; o que ficou, e o que carrega consigo; agora é nada, acabou.
O amanhecer é doloroso. Todo o calor do mundo é sentido como seu. A dor quase insuportável de abrir os olhos e ter a estranha sensação de estar vivo. Seu desejo é este, a dor. Faz frio, cada nervo de seu corpo traduz o que sente entre espasmos e gemidos. A angústia do ser que não é. Mesmo que fosse, pouco seria. Um grão, é o que é. Ínfima parte de montanhas de grãos que à menor brisa se esvaem em um ciclo infinito do pertencer ao sujeitar-se.
A música não é mais doce, o fel da existência lhe traz a lembrança de dias melhores. Dias que não viveu, achou que seria melhor fazer outra coisa. Junta um punhado de areia nas mãos e coloca no bolso. O galpão parece mais próximo agora. Está cansado, daria metade do resto da vida que tem para não estar. Queria sentir-se jovem, poder correr ou fugir. Não pode.
As luzes se acendem, é hora do sol se pôr. A fumaça atrapalha sua vista. Os ponteiros preguiçosos do relógio já não o acompanham. Não queria estar ali. Preferia como era antes, seria bom se fosse como antes. Impossível! Então sorri. Seu sorriso se transforma
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